Certamente, você já se deparou com essas cenas familiares: as conversas na sala de espera de um hospital ou na fila de um banco, onde um indivíduo começa a compartilhar seus desafios, e então, quase automaticamente, a pessoa ao lado também começa a relatar suas próprias dificuldades, muitas vezes parecendo ultrapassar as do primeiro.
Mas o que ocorre aí é mais do que uma simples troca de histórias, é uma espécie de competição não declarada, onde cada um parece medir o peso de seu sofrimento em comparação ao do outro. Nesse jogo sutil, a empatia e a compreensão pela dor alheia desaparecem, deixando espaço apenas para a vontade de falar sobre a própria tristeza.
O resultado disso é um verdadeiro bloqueio de comunicação, uma barreira que impede que se ouçam mutuamente, pois quando um se cala, é apenas para esperar o momento de retomar o próprio relato. A ironia é que, ao abrirem a boca, a disposição para ouvir é mínima, pois, para alguns, a dor do outro não parece tão intensa, enquanto outros só conseguem enxergar seus próprios problemas.
Todavia, não podemos deixar de perceber a figura do “vitimista”. Essa pessoa exige e anseia por empatia, busca o olhar e o reconhecimento dos outros em relação às suas superações. No fundo, seu desejo é ser amado por todos, o centro das atenções. E, surpreendentemente, esse anseio de se destacar como vítima não está limitado a questões de saúde ou finanças; transcende fronteiras e abrange até mesmo a cor da pele, a localidade de residência ou as crenças políticas.
No entanto, esse desejo de atrair atenção por meio da vitimização frequentemente leva a um paradoxo. Quanto mais se busca essa atenção, mais as pessoas tendem a se afastar. Afinal, poucos são capazes de suportar a incessante enumeração de adversidades. Assim, o vitimista acaba cercado por outros que têm a mesma abordagem, resultando em um ciclo no qual ninguém realmente escuta, mas todos esperam sua oportunidade de falar.
A verdadeira saída desse ciclo é abandonar o vitimismo, combater o egoísmo interior que todos possuímos. É importante entender que ninguém é obrigado a sentir pena dos nossos sofrimentos, afinal, cada indivíduo enfrenta suas próprias lutas. Ao adotar a postura de vítima, nosso sofrimento não se torna maior, e nós não nos tornamos mais especiais que aqueles ao nosso redor.
O caminho a seguir envolve desviar a atenção de nós mesmos e voltá-la para os outros, para aqueles que compartilham nossos desafios. Quando nos concentramos apenas em lamber nossas próprias feridas, não nos curamos verdadeiramente; em vez disso, nos enfraquecemos e perdemos a capacidade de apoiar nossa família e amigos.
Lembre-se, todos nós temos a capacidade de contar nossas histórias de uma forma vitimista, mas essa abordagem não é necessária e, na verdade, é desaconselhada. O que realmente atrai a atenção das pessoas não é uma narrativa triste, mas sim o valor que proporcionamos. Seja alguém que é atento, disponível, que sabe ouvir e olhar nos olhos, que oferece um sorriso genuíno. Essa é a abordagem que nos aproxima dos outros e nos ajuda a construir relações significativas.